Concessionária fantasma da Volkswagen Fechada há anos reúne preciosidades da marca alemã.


A decoração antiga e quatro clássicos que nunca rodaram são evidências de que o calendário congelou nessa loja.

Pense nos carros da época, nos móveis, nas peças que eram vendidas. Imaginou? Pois é exatamente assim na Comercial Gaúcha, na cidade de Estrela (RS). A concessionária está fechada há mais de 10 anos, mas mantém toda a estrutura – móveis, computadores e os carros que eram vendidos na época.


Otmar Walter Essig, o dono da Comercial Gaúcha, mantém todos os dias o ritual de ir até a loja e deixar tudo impecável, mesmo sem a intenção de receber clientes. Na parte da frente do local, estão expostos Santana, Quantum e Fuscas das décadas de 1980 e 1990. Na parte do escritório, todo o mobiliário, computadores e impressoras da época na qual a concessionária foi fechada.



Em 2001, Otmar foi chamado pela Volkswagen para apresentação de novas metas para as vendas de seus veículos. O objetivo era vender 60 carros, mas a Comercial Gaúcha só vendia cerca de 25 por mês. Com este novo cenário, a loja foi fechada e os funcionários demitidos. A situação causou desentendimento entre Otmar e seus filhos, que eram sócios nas empresas. Anos depois, ele perdeu a esposa.

O Fusca última série marcou o fim da produção do modelo no Brasil em 1986. O de Essig é o número 685 de 850 unidades. “Não tinha como vender, só recebi um e mantive 0 km”, explica Otmar, que diz ter recusado uma oferta de R$ 200 mil. Ao lado do Fusca, está uma perua Quantum 1996, versão Exclusive, igualmente zero, com plástico nos bancos. Essig não assume ser fã da marca, mas não poupa elogios ao Fusca. “Era o auto mais vendido da loja, barato e satisfazia todo mundo”. Estranhou a palavra auto? Nós também, mas é comum em Estrela, cidade gaúcha colonizada por alemães a 116 km de Porto Alegre. As semelhanças com o país europeu vão além. A educação no trânsito encanta quem vem da cidade grande, a ponto de o motorista parar em qualquer circunstância, com o pisca ligado, até que o pedestre atravesse. A letra V tem som de F, como na Alemanha, e Volkswagen é pronunciada “fouquisvaguen”. 



O pátio da oficina é um verdadeiro museu da Volkswagen. Ali ficam estacionados os carros de uso de Essig. As ferramentas utilizadas pelos mecânicos, o relógio de ponto com o cartão dos últimos funcionários e até mesmo os panos sujos de graxa, tudo está ali. O último funcionário da concessionária, o chefe da oficina Dirson Schneider, lembra até hoje do último dia de trabalho. “Essig nos reuniu e disse que seria impossível conseguir as metas. Ele era perfeccionista e como chefe, não havia melhor.” Outro ex-funcionário, o mecânico João Schneider, primo de Dirson, também lembra com saudade: “Passo em frente e vejo aquilo como minha faculdade; tudo que sei, aprendi lá”. Ainda há no prédio peças de estamparia penduradas no segundo andar, e também uma Kombi 1996 que era usada pela oficina, além dos carros de uso de Essig. Quatro modelos da VW, um para cada semana do mês. Em nossa visita, era a vez do Santana GLSi 1993. Repousavam no pátio o Fusca 1986 branco e o seu xodó, um SP2 prata 1971. Tem ainda em casa um Gol Star 1996 que pertencia a Susi. “Só recebi um deste e dei de presente à minha pequena.”




Apesar do desfecho triste da história, o dono da concessionária transformou seu amor pelos carros em uma atividade diária. Às vezes vende uma peça do seu acervo, mas o comércio não é uma prioridade. Mesmo com um dono avesso a entrevistas, a loja atrai curiosos, jornalistas e claro, apaixonados por carros.


Veja o vídeo abaixo produzido pela Bufalos TV



2 comentários

  1. Só acho que poderiam colocar outro título para esta reportagem. Poderiam chamá-la " Um exemplo de amor ", amor pela família pelo trabalho.

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